Em Algum Lugar do Passado

Há um pequeno coisa que não costumo admitir: já assisti "n" vezes "Em Algum Lugar do Passado", o filme com Christopher Reeve e Jane Seymour.
É, o filme é bobo. É implausível. Mas eu gosto dele, e acho que sei por quê.
Vi o filme no dia 12 de novembro de 1981. Estava esperando por ele havia meses, desde que lera a crítica na Veja -- e quando se tem dez anos, um mês é tempo demais. Como praticamente todo garoto da minha idade, eu queria ser Christopher Reeve quando crescesse. E bem que tentei: pelo menos saí do cinema Estoril, um ano antes, voando como o Superman, braços esticados e pulando da calçada para a rua e vice-versa, fingindo que aquilo era voar. Fazia isto até o portão da minha casa.
Quando finalmente assisti ao filme, naquela quinta-feira, a história de amor derrotado pelo tempo, mas que não esmorece, me deixou encucado. Descobri que estava apaixonado pelo nariz de Jane Seymour -- algo esquisito, já que ela tem um nariz longe de perfeito e, cá para nós, qualquer mulher tem coisa melhor para se admirar do que um nariz; ainda mais quando o admirador tem seus 17, 18... anos. Estava emocionado com "Rapsódia Sobre Um Tema De Paganini", de Rachmaninoff, a música-tema do filme, que procurei em vão durante anos. Fui achar bem mais tarde na internet. E continuava querendo ser Christopher Reeve. Voltar no tempo.
Eu fui para a primeira sessão no Cine Estoril (hoje não existe mais), às 2 da tarde. Queria ficar para ver uma segunda, mas não tinha dinheiro e me assustava a idéia de lanterninha me pegar escondido entre as cadeiras entre uma sessão e outra. Mas nunca consegui esquecer o filme.
O tempo passou e revi o filme umas duas ou três vezes. Vi pela última vez ainda este ano em dvd. Indiquei ele pra alguma pessoas mas não consegui a resposta que tanto procurava. Novamente o filme mexeu comigo. A cada vez eu o achava pior, mas isso não me impedia de continuar gostando dele. Acho que na primeira vez que o revi, já na década de 90, fiquei impressionado em ver como ele era hermético. Não no sentido cinematográfico, claro. Mas o círculo vicioso que ele cria é curioso. Collier só volta no tempo porque Elise se apaixonou por ele. Elise só se apaixonou por Collier porque ele voltou no tempo. E se alguém conseguir explicar como o relógio que atravessa todo o filme e serve de elo de ligação entre os amantes foi fabricado (Collier o recebe de Elise em 1972, que por sua vez o recebe de Collier em 1912) eu agradeceria.
Já cheguei a acreditar que esse filme, que me parecia ser uma bobagem romântica, é na verdade uma tragédia, daquelas tristes, que nem sempre conseguimos julgar. Collier arruina a vida de Elise, que por sua vez espera 60 anos para arruinar a dele. No fim, revendo-o o mais uma vez, fico com a mesma impressão que tive quando era criança: é só uma história de amor.



É, é bobo, eu sei. Que bom. Um trecho está abaixo e se você for assistir levo a pizza. Com muita cebola. Combinado?